Viagem Internacional Cête-Vigo

 

 

 

 

 

Cête-Ermesinde-São Romão-Trofa-Valença-Tuy (Espanha) -Vigo (Espanha)

15-08-2010

 

Um dia diferente era o proposto. Tudo começou mais uma vez na estação de Cête, concelho de Paredes, distrito do Porto, claro está em Portugal pelas 7 horas e 27 minutos.

Eu, a minha mãe, o meu primo António Santos, a mulher dele Maria José e o filho Nélson Santos fomos com destino a Vigo. Não vou contar a paisagem vista até Nine porque será igual à primeira viagem relatada (Viagem nos Urbanos do Porto).

Pelas 7:52 chegávamos a Ermesinde e iríamos tirar o bilhete até Tuy, que era até onde poderíamos tirar. Fomos logo avisados que a circulação estava perturbada devido à nova estação da Trofa, era o dia inaugural digamos assim, ainda andavam em obras mas já havia caminho para passar.

Às 8:07 apanhamos o comboio internacional espanhol N.º421 com destino a Vigo, fizemos a viagem numa automotora UDD (Unidade Diesel Eléctrica) como número de série 457. Mal chegamos a São Romão do Coronado fomos logo avisados que teríamos de abandonar o comboio porque afinal ainda não tinham acabado a linha de modo a fazer-se a circulação e tínhamos um autocarro à nossa espera para nos levar até Nine. Mas não foi bem assim, primeiro esperamos e desesperamos na saída da estação que fica situada na ponte rodoviária. Não havia notícias, não nos deixavam ir de autocarro porque afinal poderiam abrir a linha, mas partiram algumas pessoas com destino a Trofa, Famalicão, Nine e Viana do Castelo. O resto das pessoas tinha que esperar.

Mais umas chamadas, desta vez era o maquinista e que em boa hora ligou porque tinham dado permissão para embarcar as pessoas no comboio porque já tinham uma linha operacional.

No Comboio mais uma espera e prolongada. Passado uma hora ainda estávamos à espera de partir, mas já sabíamos que isso poderia acontecer dentro de momentos visto Há algum tempo terem ido numa UME 3400 engenheiros para verificarem a linha, mas tínhamos que esperar que chegassem a Lousado porque só a partir de lá é que tínhamos duas linhas disponíveis. Sem notícias desesperávamos, na estação já lá estava outro comboio com destino a Braga, de serviço urbano, mas teria que esperar que nós fossemos porque como é óbvio estávamos em primeiros lugar para partir.

Mas assim de repente fez-se luz, quer dizer o semáforo ficou amarelo, tínhamos marcha mas com muito cuidado, pois iríamos também testar a linha.

Avançamos no terreno e a linha aonde tinha passado em direcção à velha estação da Trofa estava desligada da rede e ainda podíamos ver os veículos das obras do lado esquerdo, andava tudo a ultimar as coisas pois ainda havia muitas travessas por cobrir com pedra e precisavam de ser ajustadas. Neste percurso com pouco mais de 3500 metros e quase 1500 em túnel, mas é um túnel bem moderno e muito bem iluminado e com vários refúgios de emergência durante o caminho. Saindo dele vemos uma paisagem rural visto que a nova estação ficar no sul da cidade, a antiga passava pelo centro. A nova estação é imponente de certa forma bela e a linha fica no primeiro andar do edifício, sim porque a linha durante cerca de 400 metros passa por um viaduto. Foi bonito termos a estação cheia de fotógrafos, engenheiros e termos o maquinista a tirar uma fotografia ao comboio na estação. Ficará para sempre a expressão que disse ao Nélson: “Quando fores grande podes dizer: Eu fui o primeiro a passar ali.” Sim é verdade o Internacional 421 da CP ou a UDD 457 e os seus passageiros foram os primeiros oficialmente a passar na nova variante e estação da Trofa e mal chegamos à estação disse em voz alta como uma criança: “Somos os primeiros!”. Para um entusiasta dos comboios é motivo de orgulho poder dize-lo.

Partindo da estação com cerca de 1 hora e 30 minutos de atraso, eram 9:50 quando o fizemos, mas lá fomos nós em direcção a Vigo. Passamos pela ponte nova sobre o Rio Ave e quando passamos por Lousado tínhamos três comboios urbanos à espera que a linha ficasse livre. Daqui para a frente sempre a acelerar para recuperar o tempo perdido.

A partir de Nine o que podemos encontrar nas “margens” da linha? Muita vegetação, alguma mesmo em cima da linha, isto ainda é uma linha do passado, sem electrificação e com travessa em madeira, mas já levou arranjos em certos pontos do percurso que já podemos encontrar travessas em betão.

De salientar que as travessas utilizadas no percurso da variante da Trofa são de bi-bitola, explicando melhor, são travessas preparadas para receber a bitola europeia futuramente (1435 mm), a nossa é de 1668 mm e podem utilizar as duas em simultâneo.

Voltando à paisagem a partir de Nine, vamos passar por zona calmas, com grandes vales, pequenas localidades, um meio rural no percurso até Barcelos. De lembrar que até sairmos de Portugal vamos ser acompanhados por uma paisagem fustigada pelos incêndios, quer activos, quer já passados, será desoladora em certos pontos a paisagem.

Em Barcelos temos uma cidade, não grande mas um cidade, com já varias habitações e unidades fabris. Durante este percurso vamos assistir ao que Portugal tem de belo na via férrea, as estações antigas, com os seus azulejos e jardins floridos como Caminha e Viana do Castelo, ou vasos com plantas, cada um com uma letra que forma o nome da estação como Barcelos, Tamel, Barroselas e Darque. Teremos uma paisagem sossegada e monótona até Viana do Castelo, pequenas povoações pelo caminho. Se o comboio não tivesse ar condicionado e uns bancos melhorados seria uma viagem ao passado, faltando apenas o comboio a carvão.

Antes de chegar a Viana do Castelo passamos por mais uma obra centenária, a ponte rodo-ferroviária Eiffel que atravessa o rio Lima, ao olharmos para o topo da montanha vemos a Igreja de Santa Luzia e o seu elevador.

Despedimo-nos de Viana com o desejo de fazer uma visita aquela bonita cidade de capital de um distrito um pouco esquecido.

O melhor da viagem vem agora, até Caminha vamos ter o oceano Atlântico a nosso lado, do lado esquerdo precisamente. Vamos ver umas belíssimas praias com um areal limpo, com a Vegetação, principalmente pinheiros a fazerem a divisão da praia com as localidades. Digamos assim um bom local para ir à praia e descansar, longe da confusão. Depois do que vi estou desejoso de ir aquelas praias, mas não fica para este ano, fica para o futuro.

Até Caminha temos praia a acompanharmo-nos muito bem e partir daí para a frente deixamos o Oceano para termos o Rio Minho, o rio que deu o nome a esta linha, vamos entrando no interior com praias fluviais e vendo Espanha do outro lado do rio. Temos vários locais para descansar, Em Vila Nova de Cerveira podemos encontrar um parque bonito em que podemos descansar e levar as crianças, os adultos também, com vários campos para actividades e tudo de graça.

Entre Caminha e Valença passamos por três túneis, um dos quais passamos por baixo de um cemitério.

A partir de Caminha pouco mais temos para ver como já referi, vegetação e algumas casas, em Cerveira é que se nota mais alguma coisa visto ser uma cidade maior a nível de habitações. Interessante é passar o rio Coura e ver aquele leito que nos faz lembrar o rio Tejo, mas claro está em pequena escala, isto logo à saída de Caminha.

Por fim findamos a nossa viagem a Portugal na estação de Valença. Uma terra algo desenvolvida mas claramente esquecida, temos uma estação abandonada com um barracão a servir de secção museológica.

Passando a ponte sobre o rio Minho abandonamos Portugal e nessa altura fiquei com a sensação que não queria ir para lá, foi um misto de sentimentos, só me apetecia voltar atrás e sei que este relato não deveria servir para relatar os sentimentos mas sim a paisagem e os acontecimentos, mas esta é a excepção porque fiquei realmente triste por não poder comunicar o dia todo com a minha namorada na altura Liliana. Seguindo em direcção a Tuy agora em Espanha, encontramos só campos de cultivo e nada de interesse, ao fundo podemos reparar numa montanha que nos diz ali é Portugal.

Em Tuy vamos ter que esperar um bocado mas como viajávamos atrasados não esperamos muito, só o tempo de entrar o revisor espanhol, e também o maquinista. Em Espanha os maquinistas portugueses não podem conduzir devido à sinalização ser diferente que a nossa e assim temos dois maquinista até Vigo, isto foi-me dito pelo maquinista que me trouxe de regresso a Ermesinde. O nosso revisor tinha ficado em Valença, para mais tarde voltar a trabalhar.

Na viagem podemos observar do lado esquerdo fabricas e terminais rodo-ferroviários, de resto pouco muda, mas claro já temos mais casas, é outro meio mais desenvolvido e as vias férreas são melhores porque temos electrificação até Vigo apesar de viajarmos em só uma via, também o único serviço de passageiros entre Vigo e Tuy é o nosso.

As estações são diferentes, sem o encanto dos azulejos mas todas elas bem asseadas e conservadas, apesar de não haver a dita beleza.

Até Redondela de Galícia vamos ter uma paisagem parecida com que estou descrevendo, às vezes até deprimente porque apesar de a linha ter electrificação não tem mais nada de jeito, até encontramos restos de material de linhas nas bermas, o que nos faz lembrar as linhas a cair de podre em Portugal. Passando por Redondela de Galícia temos a ria de Vigo, em que podemos varias armações em ferro a flutuar no rio, ver a montanha que se encontra do outro lado da ria e avistar também as praias e os barcos de passeio na ria. Ao fundo avistamos duas lindas ilhas Atlânticas da Galiza, que são consideradas parque natural, são duas grandes ilhas que ficam na saída da ria para o Oceano Atlântico.

Chegamos a Vigo só com uma hora de atraso, chegamos as 12.14(Hora Portuguesa) ou 13:14(Hora Espanhola), vamos ficar na linha oito, esta estação tem oito linhas de serviço de passageiros em que a 6 e 5 fazem serviço para Barcelona e Madrid em serviço de velocidade elevada e que para podermos esses serviços temos de ser revistados como nos aeroportos. De resto temos uma estação com varias linhas para manobras, com os comboios espanhóis muito diferentes dos nossos, a nível de conforto e qualidade são melhores que os nossos, mas não trocava por nada a nossa 457 com mais de 50 anos de serviço. O Maquinista português que nos trouxe ficará cá para o dia seguinte visto ser assim, irá fazer o comboio com partidas as 7:40 do dia seguinte. Podemos dar uma volta enorme por Vigo visto a partida estar agendada para as 19:42 (Hora espanhola).

Em Vigo podemos visitar a zona portuária, em que vimos o porto dos barcos e iates, também pudemos visitar o centro comercial dessa zona mas vimos que estavam fechadas as maiorias das lojas. Passamos por um parque no meio de uma avenida, que tinha lá árvores centenárias penso eu. Voltamos à estação porque já estávamos cansados de andar a pé.

Pelas 19:42 abandonamos Vigo (Espanha), para nós já era sem tempo, nesse tempo todo em Espanha só vimos um incêndio e foi um do outro lado da ria perto de uma casas, de resto era uma paisagem imaculada de incêndios.

No regresso será quase feito de noite com podermos ver o por do sol nas praias entre Caminha e Viana do Castelo. Mas antes de sairmos de Espanha, mesmo à chegada deparamos com um incêndio que deflagrava na enorme montanha do lado português, triste imagem. Chegando a Valença voltamos a ter rede portuguesa nos telemóveis e assim fiquei mais contente mas não satisfeito porque fiquei sem bateria logo após algum tempo e só tinha na cabeça o queres chegar a casa rapidamente para matar sãs saudades todas.

De Viana até ao Ermesinde pouco vamos ver na viagem porque vamos atravessá-la já no anoitecer. A viagem decorreu sem problemas até Famalicão com as paragens às vezes demoradas em algumas estações mas que estavam previstas a partir de Famalicão até passarmos a variante da Trofa vamos por vezes andar em marcha lenta mesmo até parando porque a circulação ainda não estava na totalidade. Podemos constatar que o túnel é mesmo bem iluminado porque víamos tão bem como de dia e a estação da Trofa mostra o seu esplendor à noite quando está iluminada.

Finda a viagem na UDD 457 ou internacional 422 da CP pelas 21:55 em Ermesinde, só nos restava esperar pelo comboio com destino a Cête, que estava marcado para as 22:12 e lá fomos nós para casa e o fim da viagem internacional a Vigo deu-se pelas 22:38 em Cête, Paredes, Porto, Portugal.